sexta-feira, 30 de abril de 2010

5) A faxina

Uma casa, todo mundo sabe, e até uma casa de bruxa, de vez em quando precisa de uma boa limpeza. Então, depois de vestir-se apropriadamente para a ocasião – isto é, com uma roupa bem confortável ou alegre fantasia, que combinaria muito bem com o seu estado de espírito –, Bercimella começava a “função”. E a diversão corria solta: principiando pela vassoura – uma companheira e tanto! – que, a uma simples ordem de sua chefe, dava uma cambalhota, seguida por três giros sobre si mesma e, lampeira e feliz, seguia em disparada pela casa, comandando uma pequena fila; na qual seguiam, impávidos e concentrados, outros objetos de limpeza, como o espanador, o esfregão, o balde, e uns três panos coloridos. Além de dois ou três passarinhos entusiasmados que, de pura felicidade, saiam acompanhando o cortejo e a folia.
Tapetes e cortinas levantavam-se, abrindo-se e dando passagem. Encurvando-se, recurvando-se, mal a vassoura chegasse perto. Por vezes, algum instrumento musical, ou até o rádio, resolvia, por si mesmo, começar uma música, para dar mais animação. Um instrumento tocar sozinho não era algo incomum – pelo menos na casa de uma feiticeira –, mas... um rádio! – sem fio ou eletricidade – era, sem sombra de dúvida, uma magia e tanto!!! Possível apenas para bruxas ou bruxos que tivessem freqüentado a Escola ULTRA Superior de Feitiçaria.

Acontecia também que, estando Bercimella muito ocupada com algum animal doente, ferido, ou para dar cria, na cozinha, sob a batuta de Dona Colher de Pau: tigelas, ovos, farinhas, garfos, açúcar, peneira, pratos, manteiga, confeitos, ovos, nozes, passas, baunilha, chocolates, frutas, e toda a sorte de deliciosos alimentos, se uniam, fundiam, mesclavam-se e embaralhavam-se; reunindo-se ou separando-se, para dar forma e conteúdo aos mais saborosos bolos e quitutes que se possa imaginar.
E uma mesa linda e muito bem posta, como uma singela homenagem de todos que haviam participado nos trabalhos, aguardava a laboriosa amiga no final de mais um dia.


Capítulo II – As Festas

1) Pequenas e grandes festas

Em certas épocas não muito raras, e em outras, nem tão freqüentes; em geral durante a noite, a alegre bruxa era vista saindo em sua vassoura; a qual, invariavelmente, iniciava seu vôo com uma espiral de três círculos para cima, seguido de avanço acelerado, parada brusca (mais parecendo uma pausa dramática e teatral!), e rápido impulso na direção contrária de onde tinha vindo. Uma evolução que era uma espécie de marca registrada.
E que, para encanto dos pequenos animais que assistiam à pirotécnica decolagem, enquanto subia, ia ainda despejando cascatas de estrelinhas verdes e prateadas, fazendo lembrar festas juninas.
Sempre um sinal de incontida felicidade, pois a moça, dali a pouco, estaria se divertindo imensamente na companhia de seus amigos engraçados e inteligentes.

Freqüentemente – ao Norte, Sul, Leste ou Oeste – havia uma festa, que começava quando chegava o primeiro convidado, e só terminava quando todos os assuntos tivessem sido conversados, todas as receitas mágicas experimentadas e todas as danças dançadas.

Às vezes, alta madrugada e com a animação a todo vapor, Bercimella se obrigava a dar uma paradinha para recarregar as baterias. A energia que circulara fora tanta, que seus pés não conseguiam parar de criar coreografias. Já os pensamentos e idéias, davam a impressão de que sairiam voando de sua cabeça. Recostava-se então no tronco de alguma árvore decana, como o Carvalho Mestre e, com um amigo assim tão sábio, ia pondo os assuntos em dia.
Dali a pouco, estava de novo leve... como um filhote de darmango dançando roqüanrol*. Hora de voltar para a fuzarca!
Nesse tempo, era moda bruxa o uso de meias listradas nas cores laranja, verde-limão, vermelho e pink. E os cabelos, também pintados nessas cores, faziam um contraste muito divertido com os usuais trajes pretos-básicos da turma – preferidos para dias de festa.

* - dança antiga e tradicional, muito apreciada por bruxos.

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Essas, eram as pequenas festas, e aconteciam cada vez que os bruxos tinham vontade de se reunir – o que quer dizer... quase sempre. Porém, duas vezes por ano ocorriam as festas grandes e especiais: o Solstício de Inverno e o Solstício de Verão – marcando dois importantes momentos na Roda do Ano. E que, depois da bruxa mudar-se para a Floresta, seguidamente tinham lugar à volta de sua casa.

Para esses encontros, vinha gente de tudo quanto era lugar: bruxos, animais e elementais dos quatro cantos da Terra; índios de várias tribos; o povo do fundo do mar; de perto ou de muito longe, pois apareciam até seres de Sírius e de Órion.
Conforme o gosto e a natureza, alguns convidados acampavam pelas cercanias: no campo ou na Floresta; e os mais chegados, na própria casa da amiga.

Bruxos e não bruxos, além de reforçarem laços de amizade, trocavam informações utilíssimas, tais como os ventos que estavam por vir, receitas de poções: de cura ou de encantamento; sabedorias das mais diversas, e histórias extraordinárias.
Nessas ocasiões, aparecia Dourado – o jovem e talentoso Mestre de Vassouras –, que a cada dia se destacava mais na complicada, e tradicional, Arte Vassoural; surpreendendo a todos com modelos arrojados e aerodinâmicos, e, freqüentemente, muito bonitos.

4 comentários:

  1. quero o modelito multi-colorido da bercimella para mim. mas se não puder, peço à bruxinha padam pra criar um parecido. igual nunca será.

    .que linda e fogoza, bercimélia. está mmo em dia de faxina? qto amigo fagueiro e feliz pra função da limpeza que, acredito especial, pois carregada de cor e amor. só pra bruxas que cursaram mesmo a escola Ultra superior de bruxaria.
    .
    como aprendiz, imagino a pirotecnia iluminada
    com sua felicidade, com amigos únicos e com quem vai dançar o roquanrol.
    .
    e que apareça o talentoso mestre das vassouras
    com seu arrojo e aerodinamismo, que bercimélia
    ama tanto.
    .
    festa de arromba! bercimélia é bruxa do bem mesmo. só alegrias nos traz.

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  2. Pô, esse romance eu desconhecia... as coisas que os leitores vêem!...

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  3. Sou bruxa e não sabia!

    Me teletransportei ou net-transportei, sei lá...

    Entrei nesse texto e nessa festa vestida de preto e alguns detalhes coloridos, juntei-me aos seres elementais, índios, animais e foi tanto roquanrol na veia, seguido de beliscos em novas receitas e poções, aff...e nada de cansar, ainda assim Mestre Carvalho me serviu de apoio, até pq minha vassoura estava se desgastando de tanto rodopio e...num passe de mágica, ou passe de bruxaria, o mesmo Mestre Carvalho Dourado, sendo agora Mestre Vassoural transformou-a com um simples toque...plim! e continuei na festa, aliás fui a ultima a me retirar.

    P.S.-Não frequentei a Escola Ultra Superior de Bruxaria, meu caso é genética, está no DNA da família, descobrí isso nesse exato minuto.

    Bjs Rose...qual email pra te mandar recadinhos? Não sei se chego com minha vassoura até vc...

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  4. Amada Marli - o email tá na Gaudéria, meu bem. Escreve sim! e segue por aqui nos blogs. Não deixa de acompanhar a e-novel Amor Certeiro, lém da Berci aqui q seguirá até o final.

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